Pages

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Quando Perseguimos Jesus






Todos conhecem a belíssima história do apóstolo Paulo. Suas cartas, suas “aventuras”, seus debates, sua inteligência e cultura, seu temperamento forte (João Marcos que o diga), suas viagens missionárias e tantas outras coisas que revelam a importância e a influência que ele tem sido na vida da igreja cristã de todos os tempos.

Paulo sempre foi um religioso ao extremo, um homem dedicado e fiel às suas crenças, mas nem sempre foi este pilar onde boa parte de nossa teologia é sustentada. Nem sempre contribuiu com a expansão do evangelho. Por muito tempo, pelo contrário, disputou espaços e tentou aniquilar todos aqueles que confessavam Jesus como Senhor. Mas ele sempre foi um religioso notório, fiel e dedicado.

O caminho para Damasco foi eternizado na história como o lugar onde Paulo caiu do cavalo! - Não sei de onde tiram esse cavalo na história, pois em Atos 9 diz apenas que Paulo caiu, e não diz se ele estava à cavalo ou não – Uma declaração forte naquele lugar abalou todas as estruturas de vida de Paulo e mudou a sua história para sempre: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” (Atos 9:4). Um homem de descendência judaica, crescido aos pés de um dos mentores mais reconhecidos por sua sabedoria e fidelidade à Lei (Gamaliel), fariseu dos mais dignos, ou seja, em linguagem atualizada, “um super crente” é chamado, pela luz, de um perseguidor de Jesus Cristo! Isto é até compreensível, por um lado, pois como judeu e fariseu ele não acreditava em Jesus e, exatamente por isso, perseguia a igreja (Atos 9:2).

Em sua concepção religiosa, Paulo estava cumprindo a lei e fazendo a vontade de Deus. No entanto, o que ele fazia era continuamente perseguir a Jesus Cristo, o Filho de Deus, pois o conceito religioso em que vivia não lhe permitia ver o mover de Deus e os planos de Deus através daqueles homens e mulheres, chamados cristãos, a quem ele perseguia.

Se Paulo era um religioso tão dedicado e tão bem instruído na Lei por Gamaliel e, ainda assim, perseguia a Jesus, será que nós, milhares de anos depois, também não estamos correndo o mesmo risco?! Pessoas religiosas, comprometidas com suas igrejas, ministérios, estruturas e tradições são um grande potencial para anunciar ao Jesus Cristo, filho de Deus, Salvador, ou para perseguir a este mesmo Jesus.

Perseguimos a Jesus mesmo dentro de um contexto religioso quando nossas atitudes frente à religião são diferentes e até opostas ao nosso comportamento em outros ambientes (o que chamamos mais frequentemente de “vida dupla” ou “mau testemunho”). É o indivíduo “duas-caras”, falso, aproveitador que encontra na religião possibilidade de reconhecimento e detenção de poder e, por isso mesmo, encarna um personagem que não condiz com a sua realidade de vida fora das quatro paredes do meio religioso (sendo, por exemplo, um pai irado, um filho mentiroso, um patrão desonesto, um amigo mulherengo, um sonegador fiscal, um namorado que trai). Mas faz isso tão bem que ninguém percebe, e este pensa até mesmo que pode esconder esta mentira do nosso Senhor.

Perseguimos a Jesus, também, quando usamos a religião para ligar Deus às pessoas e não as pessoas a Deus. A própria palavra religião tem o significado de “religar”, e o que quero dizer com a afirmação anterior é que as pessoas ligadas a Deus andam no traçado de Deus. Deus ligado às pessoas anda nos passos delas. É como um cachorrinho preso a uma coleira, e muitas vezes nesta ligação, queremos estar com a mão na coleira. Ou seja, aprisionamos Deus dizendo o que Ele pode ou não fazer, o que é certo ou não Ele realizar, usando da mesma indignação dos fariseus contra Jesus quando diziam: ele pensa que é Deus para dizer isso ou fazer aquilo?! Nossa mentalidade manipuladora congela nossos corações, mentes e fé para dizer às pessoas o que elas têm que fazer, utilizando técnicas de adestramento e robotização, impedindo-as de caminhar com liberdade na presença de Deus, pois eternizamos os métodos, as estruturas e a nossa maneira de fazer as coisas em detrimento do respeito ao indivíduo e à ação do Espírito Santo.

Além disso, quando sacramentamos a forma e nos esquecemos da centralidade no conteúdo, por exemplo, nos momentos de cânticos quando alguns transformam esta parte integrante do culto e vida cristã tão racional que não permitem aos fiéis expressarem suas emoções sejam de alegria, contrição, entusiasmo, devoção, legitimamente incentivadas pelo Espírito Santo de Deus, para não banalizar ou gerar bagunça na liturgia. Ou ainda, quando deixam de lado assuntos relevantes para os nossos dias, como homofobia, globalização, ecologia, sexualidade na família, política, ciência, à luz da Palavra por serem temas difíceis e muito “chocantes”, preferindo patinar sempre nas mesmices que não respondem mais aos anseios e necessidades das pessoas para gerar uma fé madura, consciente e prática.

Perseguimos a Jesus quando limitamos a criatividade de Deus para que a humanidade, em todas as suas “versões”, possa conhecer o seu amor e confessá-lo como Senhor e Salvador. Vivemos neste especo de tempo, para nele mesmo respondermos de forma coerente com a Palavra de Deus às pessoas que vivem no “agora”! O mundo de 20 anos atrás já não existe mais, então não adianta forçarmos as pessoas a expressarem sua fé como há décadas passadas. Forçar isso é dizer que Deus falhou em nos colocar aqui, hoje! Deus quer falar e alcançar o coração dos hippies, emos, góticos, internautas, hip-hop e tantas outras tribos urbanas existentes, transformando aquilo que precisa ser transformado (coração, comportamentos de morte, vícios, relacionamentos) e permitindo que outras coisas sejam preservadas (roupas, acessórios, etc...), já que não são pré-requisitos para a salvação em Jesus.

Da mesma forma realizamos esta perseguição quando cerceamos a liberdade do ser humano em ser-para-Deus, forçando-o a ser-para-o-homem através da religião, o que impossibilita, muitas vezes, falar numa linguagem que comunique as verdades do evangelho de maneira compreensível à geração emergente, como o tema “jovem cristão e sexualidade” por causa da não aceitação de uma linguagem contextualizada e inteligível no “templo”. O aprendizado disso para o jovem é que no “templo” não se pode falar de assuntos relevantes para ele, que suscitam dúvidas, dificuldades de lidar e necessidade de ajuda, enquanto que fora dali, no mundo, as distorções do inferno acabam se tornando bem claras e aceitas, porque se toca no assunto. Resultado de tudo isso no coração do jovem: eu não sirvo para a igreja, mas sirvo para o mundo.

Graças a Deus a história de Paulo não acaba nesse encontro. Pelo contrário, uma nova história começou e todos nós conhecemos os relatos sobre sua cegueira, os dias na casa de Ananias, a cura, o discipulado e, agora, aquele que perseguia a Jesus torna-se um grande o pregador do evangelho.

Isso nos aponta uma esperança e uma necessidade. Esperança, pois o próprio Cristo interveio para revelar as mentiras sob as quais Paulo julgava viver pela verdade e pode fazer isso também a todos os que se julgam pregadores mas são na verdade perseguidores. A necessidade de, quem sabe, sofrermos uma queda como a de Paulo, enfrentarmos a cegueira como ele enfrentou, mas passar pela cura de ao abrirmos os olhos enxergarmos uma nova realidade de Deus para nós e nos levantarmos não mais como perseguidores de Cristo, e sim como pregadores genuínos da Palavra.


Por Pr. Rodolfo Franco Gois


Vi no http://www.teenstreetbrasil.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=397:quando-perseguimos-jesus&catid=40&Itemid=100036

0 comentários:

Postar um comentário